Em outro artigo neste Blog, ressaltei sobre a possibilidade de uma nova técnica emergencial aplicada em atletas de elite de MMA, em que os autores relataram sucesso em 100% dos pacientes tratados, evitando deformidades permanentes na orelha. Decidi me aprofundar novamente sobre o tema, com intuito de esclarecimentos complementares ao artigo anterior.
Em referência ao primeiro aspecto: a situação inicial decorre em função de trauma no pavilhão auricular (orelha externa) e, por isso, é denomidado comumente na literatura médico-científica de Hematoma Auricular (Safran et al., 2002). O hematoma localiza-se sob o pericôndrio (camada de tecido conjuntivo ao redor da cartilagem da orelha), separando-o da cartilagem. Em lutadores, é comum a inflamação do pericôndrio em função do trauma, sendo denominado de Pericondrite, no qual, geralmente, causa acúmulo de pús entre essa camada de tecido e a cartilagem da orelha. Em suma, o pericôndrio é responsável pela "nutrição" da cartilagem e um processo inflamatório nesse nível pode conduzir à necrose por falta ou diminuição de suprimento sanguíneo, ocasionando reação fibrosa severa (formação de "nova" cartilagem) e posterior deformidade permanente do pavilhão auricular, conhecida popularmente como orelha de couve-flor.
Quanto ao segundo aspecto, ou seja, prevalência da deformidade entre atletas de Luta Olímpica e Jiu-Jítsu, foi observado que, aproximadamente, 40% dos atletas de Luta Olímpica apresentavam a deformidade (Safran et al., 2002) enquanto que, entre os lutadores de Jiu-Jítsu, esse índice caia para 30% (Viveiros et al., 2006). Nos atletas de Luta Olímpica, o trauma que originava o hematoma era relacionado principalmente às técnicas de projeção, enquanto que no Jiu-Jítsu, não é associado a nenhuma técnica em particular, mas sim das próprias características de constante contato corporal da modalidade (Ide & Padilha, 2005).
Quanto à hipótese de a orelha de couve-flor diminuir a audição, foi realizado um estudo no qual foram avaliados 20 praticantes de Jiu-Jítsu. Foi verificado que 25% dos lutadores tinham dificuldades para ouvir ao telefone, 20% tinham dificuldades para ouvir sons, 20% relataram dificuldades para ouvir rádio ou televisão, 35% apresentaram zumbido e 30%, tontura. Todos apresentaram resultados da avaliação audiológica dentro dos padrões de normalidade. Os autores concluíram que os golpes e as pancadas na região da cabeça podem provocar zumbido, tontura e deformidades de pavilhão auricular; entretanto não alteram a audição.
Leandro Paiva
Referências:
1) Ide, B.; Padilha, D. Possíveis lesões decorrentes da aplicação das técnicas do Jiu-Jitsu esportivo. Revista Efdeportes, ano 10, n.83, 2005;
2) Viveiros et al. Características auditivas dos lutadores de Jiu-Jítsu. Revista Científica de Ciências da Saúde da Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina, 2006;
3) Safran, M. et al. Manual de medicina esportiva. Barueri: Editora Manole, 2002.
Observação: No livro Pronto Pra Guerra, são observadas informações complementares a esse artigo. Inclusive, referências históricas da observação de orelha de couve-flor em lutadores.
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